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Perder-se também é caminho!

Não sei como é a sua história, o quanto é confortável ou não, para você, ser quem é. Durante muito tempo da minha vida eu quis ser outra pessoa. Nem sei direito explicar a você quem seria essa pessoa, porque ela vivia mudando de forma. A cada novo olhar sobre mim, alguma coisa “errada” a mais era pontuada. Ou eu era gorda demais, ou magra demais. Calada demais ou muito falante. Fechada demais ou muito espontânea. Ria alto demais, falava coisas “inapropriadas”. Meu cabelo era longo demais ou curto demais, ou não devia ter franja. Não tinha vaidade nenhuma ou era “patricinha”. Eu já ouvi palavras demais, do tipo que nenhuma de nós deveria ouvir, mas que eu sei que você também ouviu… todas ouvimos.

Então eu quis ser outra pessoa. Tentei me encaixar em muitos espaços que não me cabiam e nem eu neles. Não me via naquela que me tornei, nem sabia mais quem era. Foram longos anos desfazendo o estrago que o olhar dos outros me causou, porque eu não tinha forças para dizer que eu só podia ser quem era. Porque eu não tinha, então, forças para ser quem era. Porque diante de tantas vozes, a minha calou. E esse foi o silêncio mais longo e perturbador da minha vida. O silêncio da nossa própria voz é o mais desconcertante de todos.

Tem sido um longo caminho até aqui. Longo e por vezes cansativo, mas bonito também. Tenho feito o exercício de olhar para quem fui, naqueles espaços melhores de mim, para encontrar o que ainda me habita. Abrir espaço para minhas partes perdidas, resgatar. A espontaneidade era minha maior preciosidade, o que fazia a vida ter cor –  tenho visto ela voltar. Ainda de relance, talvez magoada porque a esqueci por tanto tempo, mas tem aparecido para me ver. Ela entende que as muitas vozes fora foram mais fortes do que eu, não pude evitar. Precisei fortalecer meus músculos mais importantes – o do amor próprio e do autoconhecimento – para saber quem sou, o que posso, o que tenho para ofertar.

O caminho ainda é longo, mas me dividir um pouco aqui, com você, tem sido um exercício importante. O pouco que apareço como PESSOA, mulher, SER, me mostra mais de mim. Sigo abrindo meus olhos, hoje alheia a qualquer outra voz que não seja essa que ecoa aqui dentro do meu peito, a que sinto pulsar. Sobre as expectativas alheias eu não sei mais, nem me importam. Eu não sou responsável pelo que esperam de mim, me dou o direito de ser quem sou. Sigo polindo minhas arestas, aprendendo, ouvindo minha voz cantar, feito criança quando ganha um brinquedo novo e se coloca, inteiramente, a brincar.

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